Portugal - Norte - Regata de Barcos Rabelos no São João no Porto - uma Agradável Surpresa Cultural
- Tânia Filipa
- 27 de jun. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de out. de 2022
Na Sexta-feira passada, 24 de Junho, foi dia de São João, portanto, como alguém que vive no Porto não podia deixar passar este dia em branco! O problema é que quando se é de fora só se ouve falar das festas na noite de São João, dos martelinhos e alhos porros, das sardinhadas, dos concertos e do fogo de artifício no rio organizado em conjunto pelas Câmaras Municipais do Porto e de Vila Nova de Gaia. Nesse sentido, é claro que vale a pena juntarmo-nos aos nortenhos e tentar perceber o que eles sentem neste dia. Ver o fogo de artifício uns anos de cada lado do rio também é uma ótima ideia, pois a sua beleza é impressionante de onde quer que o vejamos.
Contudo, um evento que acontece sempre a par e passo com as festas de São João é a Regata de Barcos Rabelos da Confraria de Vinhos do Porto. A regata passa claramente despercebida quando comparada com os restantes festejos de São João mas não é em nada menos interessante!


Para quem não sabe um barco rabelo é um barco muito típico, que foi construído
algures antes do século XVII,
especificamente com o intuito de transportar o vinho do Porto desde a região demarcada do Douro até às caves em Vila Nova de Gaia. São barcos à vela, sem motor claro, e orientados por um rabelo, que é uma espécie de leme enorme que existe a meio na popa. Ao olhar com atenção podemos ver que estes barcos têm a sua forma adaptada para levar várias pipas de vinho empilhadas simultaneamente.
Os barcos rabelos circularam no Rio Douro até 1963 e em 1983 aconteceu a primeira Regata de Barcos Rabelos organizada pela Confraria de Vinhos do Porto, com o objetivo de alertar para a importância da preservação destes barcos que são parte integrante da cultura dos vinhos do Porto e dos portuenses. Este ano, George Sandeman, o chanceler da confraria anunciou a intenção de transformar a regata num acontecimento internacional de promoção dos vinhos do Porto e da Região do Douro.
Todos os anos, a regata acontece na tarde de dia 24 de Junho, com início na zona da Afurada. O objetivo é ser o primeiro a chegar à meta, na Ponte D. Luís I, onde acontece a entrega de prémios. Além dos ventos, este percurso obriga os concorrentes a lutarem também contra a corrente e uns contra os outros, sem ficarem encalhados nas laterais do rio e tentando ter o mínimo de acidentes possível.

Quanto à Regata deste ano:
Este foi o primeiro ano em que fui ver a regata, portanto não tenho base de comparação com anos anteriores, mas não foi nada do que o que eu tinha em mente!
Nós decidimos ver da zona em frente ao Museu do Carro Elétrico, do lado do Porto, pelo que não sei como é que se dá a partida, mas a nossa vista era bastante clara desde que os barcos passavam pela Ponte da Arrábida.

Este ano a corrente estava forte, de tal modo que a regata foi adiada em algumas horas. Independentemente da corrente, esta foi a corrida mais lenta a que alguma vez assisti, ainda que tenha sido igualmente cheia de adrenalina. O percurso é tão lento que percebemos depois que muitas pessoas não assistem desde um ponto mas acompanham os barcos, pelas margens, de uma ponta até à outra, ao longo de várias horas.
Mal começámos a ver os barcos parecia-nos que o vencedor estava praticamente decidido; um dos barcos vinha "a alta velocidade" com uma boa distância dos restantes, mas em pouco tempo percebemos que isso não queria dizer nada! Os velejadores não são necessariamente profissionais e com o vento a mudar de direção ou com o vento a parar, alguns barcos começaram a andar para trás. Outros barcos começaram a dirigir-se perigosamente para as laterais e tiveram de ser rebocados por pequenas lanchas antes de encalharem. Houve até várias alturas em que alguns barcos simplesmente chocaram uns contra os outros e tiveram de ser novamente rebocados por lanchas para saírem daquela salganhada.

No fim de contas, a regata deste ano teve de ser dada por terminada sem que nenhum barco chegasse à meta e os barcos acabaram por ter de ser rebocados para fora do percurso devido à corrente e ao vento.
Ainda assim, esta é uma experiência única no mundo e muito interessante para ser vista pelo menos algumas vezes na vida, mesmo que não se seja apreciador de vinhos nem de barcos.
Comments